Má gestão e saída de médicos agravam caos na saúde

Pronto Socorro Central

Por Folha de Embu | 27/01/2019

Prefeito anuncia troca de empresa terceirizada que administra a saúde de Embu

Os moradores de Embu das Artes vivem uma luta homérica para ter atendimento básico de saúde com qualidade. Atrasos nos pagamentos dos funcionários, reclamação sobre falta de insumos e médicos, além das longas filas para consultas e exames nas Unidades Básicas de Saúde (UBS´s) compõem a lista de problemas que a saúde do município enfrenta.

Após a saída dos médicos que compunham o quadro do programa Mais Médicos, do governo federal, a saúde embuense parece entrar em colapso: longas filas de espera e remarcações de consultas e exames tornaram-se frequentes após 20 médicos cubanos do programa deixarem Embu das Artes, em 21 de novembro de 2018.

Já decorridos mais de 60 dias da saída dos profissionais de Embu das Artes a situação continua crítica e ainda não tem previsão de melhora. A reportagem da Folha de Embu esteve duas vezes na unidade do Pronto Socorro Central para acompanhar o atendimento aos munícipes. Na noite de 27 de dezembro, quinta-feira, os funcionários do PS avisaram, já no atendimento cadastral dos pacientes, que o tempo de espera para a consulta estava chegando há duas horas, uma vez que não haviam médicos suficientes para cobrir a emergência e o atendimento clínico. Na tarde de 16 de janeiro, quarta-feira, a exemplo da visita anterior, os pacientes precisavam estar munidos de paciência para aguentar a espera pelo atendimento, que não tinha previsão para acontecer.

Falta de médicos e insumos básicos geram onda de reclamação

Em entrevista com um funcionário do equipamento de saúde municipal do centro de Embu, que não autorizou ser identificado, informou que o dia com maior número de pacientes a serem atendidos é a segunda-feira, onde “é lotado dia e noite”. O funcionário não soube dizer se o problema acontece pela ausência de médicos no primeiro dia útil após o final de semana.

Enquanto isso os moradores reclamam. José Roberto Amaral, 53 anos, comentou sobre a demora em atender seu filho de 16 anos, que sofria com dores abdominais. “Isso é revoltante [esperar atendimento]. Eu trabalho e pago os meus impostos como todo mundo, mas quando preciso de um médico que examine meu filho eu tenho que esperar duas horas para que um deles tenha boa vontade em vir trabalhar”, criticou

Nas redes sociais, a população mostra em fotos e vídeos os problemas da cidade. A moradora Ana Maria Silva denunciou a falta de insumos na UBS do Ressaca. “Eu fui agora de manhã [18/01] tirar sangue no posto do Ressaca e a enfermeira me falou que não tem material da coleta de sangue. Não tem agulha, nem gases. Está no básico do básico. Daqui a pouco o posto vai fechar por falta de tudo”, denunciou a moradora.

Em seu perfil oficial, o vereador Edvanio Mendes (PT) divulgou um vídeo criticando o prefeito Ney Santos (PRB) e denunciou a ausência de médico pediatra na maternidade e pediatria do PS Central. “Um clínico, da outra sala, veio aqui olhar as crianças [... porque] desde as 7h da manhã não tem pediatra aqui, Senhor Prefeito”, disse.

O embuense André Batista, em comentário no vídeo do vereador Edvanio afirma ser necessário medidas drásticas para conseguir o básico. “Nossa cidade está com a saúde abandonada, para conseguir um simples kit de diabetes precisa entrar na justiça. Um direito do cidadão que é absolutamente negligenciado porque o investimento em festas e propaganda do governo é mais importante”, ressaltou o dinheiro enviado para os eventos musicais que aconteceram na cidade em dezembro.

Segundo o jornal Gazeta de S. Paulo, a UBS central de Embu das Artes atende dezoito bairros com horário estendido e, ainda assim, é comum encontrar filas no local. O único serviço que os usuários demonstram satisfação é a farmácia. “Olha, hoje eu vim buscar remédios na farmácia e deu tudo certo. Acho que a única coisa que funciona é o atendimento na farmácia, porque não demora, mas o restante é horrível”, afirma o autônomo Aluízio Batista, de 43 anos, que mora há 15 anos em Embu.

Prefeitura promete novos médicos e nova empresa terceirizada para cuidar da saúde

Procurado pela reportagem da Folha de Embu para comentar o assunto, José Alberto Tarifa, que era secretário de saúde, na época da reportagem, informou que já foram contratados 16 médicos, e “todos já iniciaram as atividades. Os 4 médicos restantes deverão ser contratados e iniciar o trabalho em fevereiro”, ainda sem data definida. Os novos profissionais foram para as UBS Ressaca, Mimás, Eufrasio, São Luiz, Fátima, Tereza, São Marcos, Independência e Valo Verde.

Tarifa afirmou que a Prefeitura de Embu abrirá, até o início de fevereiro, edital para concurso público visando a contratação de novos médicos para a cidade. Segundo Tarifa serão contratados clínicos, ginecologistas, pediatras, além de especialistas em diversas áreas.

“Com isso já estaremos contribuindo para a diminuição do tempo de espera por consultas. Além disso, já há alguns meses, estamos implantando o sistema de marcação de consultas através do acolhimento de enfermagem, infelizmente, devido a saída dos médicos cubanos, essa implantação foi pausada, mas vamos retomá-la no próximo mês”, afirmou o ex-secretário José Alberto Tarifa.

Questionado sobre as medidas que a secretaria de saúde vem tomando para diminuir o tempo de espera por atendimento nos pronto-socorros e nas UBS’s, Tarifa afirma que “a empresa que gerencia esses equipamentos está saindo de Embu. Foi aberto processo licitatório para contratação de outra” e a previsão, segundo ele, é que até março uma nova empresa cuide da saúde de Embu das Artes.

Sobre as filas para consultas e exames, Tarifa afirma que “muitos dos exames e consultas especializados são realizados pela Secretaria Estadual de Saúde, como, exemplo, as Ressonâncias Magnéticas, que a Secretaria estadual de saúde demora meses para marcar. Mas as de responsabilidade do município, através do Programa Fila Zero, praticamente não existem”, ressaltou. Segundo Tarifa já não há mais fila para 25 especialidades e exames, entre elas: Urologia, Ultrassom Doppler Venoso, Fisioterapia, Mamografia e Vascular.

“Um outro grande problema que enfrentamos são as internações, principalmente de UTI, e as cirurgias, que também são de responsabilidade da Secretaria Estadual de Saúde, mas alguns pacientes esperam muito tempo. Entretanto também não são de responsabilidade do governo municipal e sim do estadual. A nossa parte estamos fazendo, mas todos os municípios da região estão precisando de mais atenção do Governo Estadual”, ressalta Tarifa.

Saída de cubanos afetou cidades vizinhas

Outros dois municípios da região também foram afetados pela saída dos profissionais do programa, deixando a região com um déficit de 55 médicos.

Diferente de Embu das Artes, o município de Itapecerica da Serra já normalizou os atendimentos. A cidade perdeu 19 profissionais cubanos, mas de acordo com a prefeitura 10 novos profissionais já se apresentaram e estão atendendo nas unidades.

Por meio de uma nota, a Prefeitura de Itapecerica da Serra informou que “o acolhimento aos profissionais que se apresentaram aconteceu no dia 17 de dezembro, na sede da Autarquia de Saúde. Nesse mesmo dia, já deram início ao treinamento sobre as unidades de Saúde e receberam dados do município. O treinamento ocorreu entre os dias 17 e 19, ainda no dia 19 foram encaminhados às unidades para início das atividades. Os profissionais que se apresentaram, 10 ao todo, são de São Paulo, Brasília, Goiás, Campo Grande e Espírito Santo”. A nota ainda diz que “além dos 10 profissionais recém-chegados em Itapecerica da Serra, mais nove médicos são aguardados para completar o quadro do programa que contempla a cidade”.

Já em Embu-Guaçu, o déficit foi um pouco menor: a cidade perdeu 17 médicos.

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