Embu teve somente 8 prefeitos em 60 anos de história

Eduardo Toledo / Portal O Taboanense

Por Folha de Embu | 18/02/2019

Márcio Amêndola de Oliveira

Em toda a sua história de 60 anos (1960-2019), Embu das Artes teve apenas 8 prefeitos eleitos, alguns dos quais cumprindo dois e até três mandatos à frente da Prefeitura.

Embu tem uma história política que antecede a eleição do primeiro prefeito, em 1959. Até aquele ano, o distrito de M’Boy, como era conhecido, era vinculado a Itapecerica da Serra, sede da Comarca. Curiosamente, por um longo período, tanto Itapecerica como M’Boy (Embu) eram distritos de Santo Amaro, município que desapareceu, sendo incorporado à cidade de São Paulo. Em meados do século XIX Itapecerica emancipou-se de Santo Amaro, tornando-se sede da Comarca e abrigando os distritos de Embu, Taboão, Juquitiba, Embu-Guaçu e São Lourenço da Serra. Já no século XX, nos anos 1940 e 50 a Câmara de Itapecerica chegou a ter representantes (vereadores) de Embu, um dos quais Annis Neme Bassith.

Emancipação e o 1º Prefeito

Em 1958 surge o movimento cívico de M’Boy, que se transformaria na Associação Cívica de Embu, fundada em 17 de março de 1958, na casa do Dr. Carlos Koch (imóvel que ainda existe, em frente à Caixa Econômica Federal, em cuja fachada está localizado o Despachante Zanella). O objetivo da entidade era a realização de um plebiscito sobre a Emancipação do distrito, idéia que acabou triunfando em 1959. No dia 4 de outubro daquele ano foram realizadas as primeiras eleições, e Annis Neme Bassith foi eleito o primeiro prefeito da história de Embu, pelo PTN, com 480 votos, batendo João Marques Maurício, do PSP (com 327 votos) e Domingos de Paschoal, do PDC (com 219). Annis tomou posse juntamente com seu vice, Dr. Carlos Koch em 1o de janeiro de 1960 e permaneceu por 4 anos no cargo.

Annis elege Quinzinho

Em 6 de outubro de 1963, com o apoio de Annis Bassith, foi eleito pela coligação PDC/PTN e PTB o nosso segundo prefeito, Joaquim Mathias de Moraes, mais conhecido como Quinzinho, tendo como vice o Dr. Paschoal Nunziato. Sua posse foi em 1o de janeiro de 1964 (ano do golpe militar) e ele permaneceu no governo até 1968. Com o regime militar, todos os partidos foram extintos, sendo permitidos apenas dois: Arena - Aliança Renovadora Nacional (situação) e MDB - Movimento Democrático Brasileiro (oposição). Quinzinho optou pela Arena, na qual permaneceu por muitos anos, até a nova reforma partidária, ocorrida no início dos anos 1980.

Quinzinho ainda foi eleito prefeito de Embu por mais duas vezes: no segundo mandato, entre 1977 e 1982, e no terceiro e último, entre 1989 e 1992.

Quinzinho elege Annis

Em 15 de novembro de 1968, com o apoio de Quinzinho, Annis Neme Bassith foi novamente eleito, juntamente com o vice-prefeito, João Penteado Rocha, com 1.472 votos, já pela Arena, derrotando o partido da oposição, o MDB, cujo candidato, Oscar Yazbek e sua vice, Anésia Souza Pinto, alcançaram 1.256 votos.

Até então, as três eleições de Embu foram ‘tranquilas’ para os governantes do momento. Porém, a partir dali, por mais de quarenta anos, nenhum prefeito conseguiu eleger seu sucessor, ao menos até 2008.

Oposição no Poder

Nas eleições de 1972 o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) acabou vencendo as eleições com seu candidato, Oscar Yazbek e seu vice, Milton Peixoto, diretor da ACIE (Associação Comercial, atual ACISE). O candidato do prefeito Annis, João Penteado Rocha não decolou. Os empresários da cidade escolhem a oposição pela primeira vez, desbancando o poder tradicional.

Triunfo da Arena

Em 1976 a Arena reconquista o poder, através da segunda eleição de Joaquim Mathias de Moraes, que derrotou o candidato Ataíde Lúcio Moura (MDB), apoiado por Yazbek. Quinzinho permaneceu no cargo por 6 anos, até 1982, juntamente com o vice José Marques Padilha, empresário do ramo de ônibus. Ocorre que o regime militar impediu a realização das eleições de 1980 temendo uma derrota. Passados mais de 15 anos da ditadura militar, o regime desgastava-se e o MDB crescia. Surge a reforma partidária e novos partidos voltam a existir. O MDB se transforma no PMBD, mas surgem outros partidos, o PT (Partido dos Trabalhadores), o PDT, o PDS (ex-Arena), o ‘velho’ PTB também volta.

Orlandi triunfa

Em 1982 Quinzinho lança o vereador Spencer Cesário de Oliveira Filho para prefeito, juntamente com mais dois candidatos em sublegendas: o vereador Sadao Nagata e o então vice-prefeito José Marques Padilha, todos pelo PDS. As sublegendas poderiam somar votos, ou seja, todos os três candidatos do PDS juntariam seus votos, e o mais votado poderia ser eleito prefeito. Poderia, mas não foi. O PMDB, apesar do direito de fazer a mesma coisa, lançou candidato único, o vereador Nivaldo Orlandi, que com mais de 17 mil votos acabou superando a soma dos votos dos três candidatos do PDS, sendo eleito prefeito de Embu. Orlandi foi prefeito entre 1983 e 1988 (seis anos), já que o governo militar novamente adiou as eleições municipais de 1986.

Terceiro mandato

Em 1988 Orlandi tentou eleger seu Secretário de Saúde, Dr. Geraldo Puccini (PMDB) para sua sucessão, mas Joaquim Mathias de Moraes, o Quinzinho levou a melhor e elegeu-se prefeito pela terceira vez, ficando no cargo entre 1989 a 1992. Quinzinho obteve 17.247 votos (26,4%), contra 15.823 de Puccini (24,2%). Mas, o fator que ‘derrubou’ o PMDB foi a divisão interna. A vereadora Brígida Sacramento decidiu rachar e candidatar-se a prefeita pelo PV, obteve só 5.038 votos (7,7%), mas foi o suficiente para derrotar seu ex-partido, o PMDB.

Puccini insiste e vence

Candidato novamente, Puccini acabou sendo eleito pelo PMDB em 1992, com 23.341 votos (30,6%), tendo como vice Sadao Nagata. Na ocasião o ex-prefeito Oscar Yazbek (PSD), seu principal concorrente, obteve 10.254 votos (13,4%). Rompido com Puccini, seu ex-mentor Nivaldo Orlandi (PDT), ficou apenas em terceiro lugar, com 7.315 votos (9,6%). Curiosamente, em sua primeira tentativa para o cargo Executivo, o atual deputado estadual Geraldo Cruz (PT), ficou em quarto lugar, com 6.010 votos (7,9%).

Yazbek: vitória apertada

No final do governo de Geraldo Puccini, em 1996 dois de seus secretários se dividiram e saíram candidatos: Paulo César Martins (PMDB) e Brígida Sacramento (na época no PSDB), além do ex-prefeito Nivaldo Orlandi, a essa altura filiado ao PDT, que numa aliança com o PT tentou a volta à prefeitura. Com toda essa divisão, o resultado acabou sendo uma derrota dos outros para o ex-prefeito Oscar Yazbek, que voltou a administrar a cidade entre 1997 e 2000, com 22.078 votos (24,7%) tendo o ex-vereador Josmar Begalli de Figueiredo como vice. Só para se ter uma idéia, Paulo Martins obteve 21.967 votos (24,6%), apenas 111 (0,1%) votos a menos que Yazbek. Orlandi foi impugnado a apenas uma semana da eleição, e sua esposa, Alba o substituiu, obtendo 18.014 votos (21,1%). Numa eleição extremamente dividida, o quarto lugar de Brígida Sacramento, com seus 7.466 votos (8,3%) foram mais que suficientes para tirar seus antigos aliados, Martins e Orlandi, da disputa.

Aliança: trabalhador e empresário

O governo Yazbek sofreu forte desgaste após várias denúncias de corrupção e ataques da oposição. Em 1999 um processo levou ao afastamento temporário de 18 dos 19 vereadores de Embu. O único vereador que sobrou, Geraldo Leite da Cruz (PT), acabou se tornando quase uma ‘celebridade’ e, no ano seguinte (2000) acabou sendo eleito prefeito, numa aliança com o presidente da ACISE (Associação Comercial, Industrial e Serviços de Embu), Roberto Terassi (PSB); a dupla obteve 45.013 votos (42,3%), superando Paulo Martins (PMDB), que chegou a 30.079 (28,3%), seguido de Nivaldo Orlandi (PDT), com 15.761 (14,8%).

A dobradinha Cruz/Terassi reelegeu-se em 2004, derrotando Paulo Martins nas duas eleições. No resultado final, Geraldo Cruz obteve 62.438 votos (48,7%) contra 46.585 (36,3%) de Paulo Martins. A eleição foi totalmente polarizada, já que a terceira colocada, Neide Orlandi (PDT) atingiu modestos 4.580 votos (só 3,6%).

2008, novo desafio

Em 2008, com o lançamento do ex-secretário municipal Chico Brito (PT) para prefeito com o apoio de Geraldo Cruz, surgiu uma nova divisão no campo governista: o Vice-Prefeito Roberto Terassi (PSB) lançou candidatura própria, apoiado pelo também dissidente, vereador Professor Toninho (ex-PT, agora no PSOL). Paulo Martins (PSDB) tentava sua quarta candidatura a prefeito. O ano de 1968 foi o último em que um prefeito conseguiu eleger seu sucessor (não contando a reeleição do atual prefeito Geraldo Cruz, já que a reeleição não existia até 1996). Mas o prefeito Geraldo Cruz acabou conseguindo eleger seu sucessor.

Chico Brito (PT) conquistou 72.723 votos (59,6%), juntamente com seu vice-prefeito, o ex-vereador Nataniel da Silva Carvalho, o Natinha, ficando em primeiro lugar nas eleições 2008, seguido pelo candidato a prefeito Paulo Martins (PSDB), que obteve 38.649 votos (31,7%). O candidato que ‘rachou’ com o governo, Roberto Terassi (PSB), obteve 9.109 votos (7,5%), e o último colocado foi Pastor Leonardo (PP) teve apenas 1.591 votos (1,3%).

Chico Brito foi eleito o sétimo prefeito de Embu e tomou posse no dia 1º de janeiro de 2009, com mandato até 31 de dezembro de 2012.

Reeleição levou PT a 16 anos no poder

Em 7 de outubro de 2012 o prefeito Francisco Nascimento de Brito (PT) consegue a reeleição com um total de 80.541 votos (65,85% dos votos válidos), contra seus dois adversários, Geraldinho Lima (PSDB), com 23.795 votos (19,45%) e Antonio de Jesus Rocha, o Professor Toninho (PSOL), que obteve 17.981 votos (14,70%).

Com esta vitória, Chico Brito chegou ao quarto mandato consecutivo do Partido dos Trabalhadores (PT) à frente da prefeitura de Embu das Artes. O prefeito reeleito tomou posse no dia 1º de janeiro de 2013, com mandato até 31 de dezembro de 2016. O vice-prefeito em sua chapa foi o mesmo da primeira administração, Nataniel da Silva Carvalho, o Natinha, do PDT.

Vitória de Ney Santos

No ano de 2016, com a crise da esquerda e divisões internas no Partido dos Trabalhadores, o prefeito Chico Brito abandonou o PT em seu último ano de governo, possibilitando a entrada de um novo personagem na vida política da cidade, o até então vereador e presidente da Câmara, Claudinei Alves dos Santos, o Ney Santos. Seu vice eleito foi o médico Peter Calderoni. O resultado da eleição ficou assim: Ney Santos (PRB), com 64.828 votos; Geraldo Cruz (PT) 35.697 votos; Juninho (PSOL), 5.807 votos; Dr. Almir (PEN), 1.982 votos; Nivaldo Orlandi (PDT), 1.030 votos; Toninho Serapião (PMN), 239 votos. A princípio, Cruz teve seus votos invalidados, mas posteriormente a Justiça Eleitoral revalidou a votação do ex-prefeito.

Márcio Amêndola de Oliveira é Executivo Público na Secretaria de Governo do Estado de São Paulo e graduado em História na USP. Agradecimentos a Annis Neme Bassith, que forneceu informações preciosas para esta matéria. Dados estatísticos da reportagem retirados em arquivos históricos dos jornais Folha de Embu, Gazeta do Embu, Tribuna do Embu e Fato Expresso.

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